domingo, 3 de fevereiro de 2013

Gostaria de ter escrito


O Encontro

 O Encontro
Autora: Glória


Recentemente, conheci um homem que não cabe dentro dele. Mesmo em silêncio,  sozinho é atravessado por desmesuras, por grandiosidades sem nome. Sente a dor dos que já não têm voz, dos que se apagaram por dentro, e pressente a intensidade das almas despertas. Esse homem maior que ele,  usa a voz para dar passagem ao que transborda, para aquilo que nomeiam de divino. 

Canta e, quando pode, dança. Acho que ele não sabe que seus olhos podem ficar estáticos quando a cena é mesma. De outro modo, quando cores e formas movimentam o inusitado, ele se regozija e veste-se de arco-íris dos mais variados matizes.

Reparem, traz um sorriso tímido por detrás da visão.  Não é qualquer visitante que cruza janelas, mesmo que as portas do olhar permaneçam abertas. Ele se desdobra.  Dá uma mão a tudo que é sagrado, e a outra estende para a criança eterna que o habita. Ele poderia soltar pipa todos os dias, poderia deitar na relva e olhar cada pedra como se única fosse e sequer passar as páginas do calendário. É tão livre que decidiu ficar e assentar-se no dorso de palavras encantadas.

Imagino. Não é fácil ser ele. Falou-me em silêncio que seu corpo tem fome de varar estradas, de sentar-se sem ligeireza,  e conversar sem ser notado. Ele guarda palavras, assim como o pastor vela ovelhas. E nosso encontro aconteceu no dorso de letras em profusão.  Se pudesse, o convidaria para viajar de trem e brincar de ver paisagens na janela. De qualquer modo, quando sua imagem aporta na lembrança, peço que permaneça vivo o menino que fundou sua fé. Milagre é brincar com o impossível.  Não seria esse o mistério indecifrável do ato cotidiano de ressuscitar a vida?

5 comentários:

Paula Barros disse...

Um texto que muito me emocionou. E trouxe para guardá-lo aqui, e reler sempre.

Gugu Keller disse...

Textos como este chamo de poesia em prosa.
GK

Paulo Francisco disse...

Como estou lendo tudo De Fernando Pessoa... Lembrei-me dele no texto.

Muito bonito mesmo.

O Árabe disse...

É um belo texto, sim, Paula. Boa escolha! E boa semana.

O Sibarita disse...

Oi moça, na minha modesta interpretação, o texto relata, no meu entendimento, o encontro da autora com o MESTRE JESUS, que deve ter operado milagre na vida dela...

Belo texto!

O Sibarita